quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

De Cara Limpa




Essa ruela escura e sombria nessa solidão que avassala 
um coração já cansado de sofrer tantas amarguras, 
tantos dissabores.
O que a vida ainda reserva além dessa escuridão fria?
Quantos perigos nessa rua, quantos recônditos escondidos, 
quantos medos à espreita?
Como posso saber aonde termina se por vezes até o início
se perde na neblina dos sonhos desfeitos, 
de alguém que já não guarda ilusões.
Existe alguma luz lá no final?
Sim, às vezes até posso vê-la quando não encoberta 
pelo desânimo da incessante busca de alcançá-la.
Onde estou afinal, em que mundo?
Quem sou?
O que sou?
Que destino aqui me trouxe, se é que por ele fui trazida?
Que vida é essa que tenho que viver?
Eu a escolhi ou foi escolhida para mim?
Onde está meu livre arbítrio?
Onde está meu poder de escolha?
E se eu não a quiser, posso devolvê-la embrulhada
em papel barato e rude (pois que rudeza bem conheço e 
em vários momentos de minha vida a vivi 
como muitos desafortunados)?
Pode parecer que reclamo à toa, que choro sem razão,
que a angústia que toma meu peito de assalto é quase nada.
Mas é tanta para mim que às vezes penso não poder
mais suportá-la!
Onde posso encontrar abrigo?
Não, não busco mais ninguém para partilhar minhas dores.
Elas são incompreensíveis para a maioria das pessoas, 
para as pessoas comuns que me cercam com sua máscaras
de falsa alegria.
Elas estão tão envoltas nas suas próprias dores 
ou tão ocupadas em manter  a máscara em seus rostos
que certamente não terão um porto em que eu possa 
descansar meu cansaço.
Elas tem muito mais medo do que eu porque nem conseguem 
mostrar seu rosto.
Eu sou meu próprio porto, quando deságuo em mim
lágrimas sentidas e quentes que rolam sobre minha face, 
desprotegida de máscaras. 
Lavando o sofrimento de minh'alma, 
esvazio do peito a angústia que me consome
e adormeço em meu abraço que me conforta.
Assim aprendi a ser...
só no mundo,
única em mim.


Ianê Mello




Reciclado para " Fábrica de Letras "em 29.01.2010.

2 comentários:

Marcelo Novaes disse...

Ianê,



Esse pacote é sem direito à devolução.
Desembrulhe-o com carinho.




Beijos,







Marcelo.

Ianê Mello disse...

É, meu amigo, eu sei.

Tenho procurado fazê-lo, apesar das dificuldades e do nervosismo nas mãos par abrí-lo, em alguns momentos.


;)

Beijos