domingo, 31 de julho de 2011

LOUCOS POETAS








A diferença entre um poeta e um louco é que o
poeta sabe que é louco...
Porque a poesia é uma loucura lúcida.


Mario Quintana


Para Mario Quintana



Profundas nossas palavras
que gotejam emoção
como se fossem lavas
de um vulcão em erupção
Viscerais e pungentes
arrancadas de nossa alma
Sentimentos tão urgentes
que necessitam de expressão
e não ponderam a calma
O papel é o veículo
para nossa exortação
O instrumento precípuo
à nossa liberação
Súplicas podem ser
e urgem serem ouvidas
a quem as quiser ler
para que sejam sentidas
Gritam eloquentemente
saltando aos olhos de quem lê
Não há de ser mansamente
que expressaremos o sofrer
Seremos por isso dementes
estando sempre a mercê
de críticas incoerentes?




Nos sabemos loucos
como bem disse Quintana
Nos importarmos pra quê?
Se nossa mente é insana,
a lucidez ... é pra poucos


Ianê Mello

VINHO DA CASA




Para Amy Winehouse


Amy, você está em nossa memória e nela permanecerá
em seu cantar, uma catarse de sentimentos
numa voz bela, sensível, inigualável
Ainda uma menina descobrindo o mundo
assustada, com medo dos holofotes da fama
Quando soltava a voz enchia nossos corações,
inundava nossas almas no êxtase de ser
intensa, nua, bela em sua expressão da dor
Amy, para nós deixou a saudade
Descanse em paz...

Ianê Mello

sexta-feira, 29 de julho de 2011

ENCONTRO CASUAL 2





- Olá, como está?
- Eu vou bem e você?
- Tudo bem, na medida do possível.
- Soube que se casou.
- Verdade. Ia te convidar, mas...
- Não precisa se desculpar, por favor.
- É, tem razão.
- Você sabe que eu não poderia ir mesmo.
- (...)
- Bem e o casamento... está feliz?
- Acho que sim... Sim. Estou feliz.
- Que bom!
- Quer tomar um café ou algo assim comigo? Tem um barzinho logo ali.
- Não há problema para você? Digo...
- Claro que não, vamos.

Não esperava vê-lo assim, no meio da rua. Cara a cara comigo. Nem deu tempo de abaixar os olhos e passar direto. Seus olhos negros já me fitavam fixamente. Ele sempre foi assim. Nunca fugiu de um olhar.  Aqueles olhos negros...negros como a noite. Misteriosos como um poço escuro. Devia saber que mergulhar nesses olhos seria a pior coisa que eu poderia ter feito, mas eles eram  tão sedutores; profundos demais para serem ignorados. Me fisgaram. Me prenderam e neles me perdi.
Agora estou aqui, de frente para ele, nesse bar, amistosamente. Tudo parecendo tão casual, tão normal de acontecer quando duas pessoas que se conhecem se encontram. Tanto tempo havia se passado e para mim parecia que havia sido ontem que aquele homem saiu da minha vida.

Chega o garçon.

- O que você quer beber? - ele me pergunta.
- Um capuccino vai bem. - respondo olhando em seus olhos.
- Algum acompanhamento? - gentilmente pergunta.
- Um strudel de macã. - digo sorrindo.
- Para mim o mesmo, obrigada - diz dirigindo-se ao garçon.

Pedimos o mesmo que costumávamos pedir quando íamos à um café. Interessante. Será que ele se lembrou?

- Capuccino ainda é mossa bebida predileta, pelo que vejo - disse com um ar de intimidade.
- E strudel também ainda é o acompanhamento - respondi com um sorriso sem graça.
- Pois é... há preferências que não se alteram, nem com o tempo.... - flou reticente, fitando meus olhos.

Não suportei e baixei a vista. Era demais... O que ele queria. Me magoar... de novo. Estava casado. Fez sua opção e agora estava querendo me seduzir?
Seus olhos se voltavam para os meus que não mais sabiam aonde pousar. Comecei a mecher nas mãos, nos cabelos, a olhar para os lados... mal sinal, estava me sentindo desconfortável. Eram tantas meias palavras, olhares fugidios, mão perdidas no vazio. Podia quase ouvir os batimentos do meu coração. Será que ele percebia minha angústia? Será que sentia que eu ainda o amava?

- Mas você parece bem... está muito bonita. Aliás, sempre foi.

 Preferi me calar...

- Desculpe, acho que estou te deixando tensa. Pensei que pudéssemos conversar um pouco e tudo ficaria bem
- Não se preocupe. Não há nada na vida que não se possa superar.
- Talvez... não sei bem...

Aquilo já estava me irritando. Ele não tinha esse direito e eu tinha que deixar isso claro. Iria acabar com esse joguinho idiota agora mesmo. Mas com classe. Ele entenderia.

- Olha, foi bom termos nos reencontrado. Saber  que está bem e satisfeito com sua nova vida. Agora, me desculpe, mas tenho um compromisso e preciso ir.
- Mas já, tem certeza?
- Perfeitamente. Por favor, peça a conta.

Contra a firmeza de minhas palavras, ele não teve saída. Chamou o garçom. Caminhamos até a calçada. Trocamos um beijo no rosto. Ele me fitoudaquele jeito... será que um  dia esqueceria aqueles olhos?

- Obrigada pelo lanche.
- Obrigada pela companhia. Seja feliz!

Fui andando com passos apressados pela calçada, me distanciando cada vez mais da quele homeme e sentindo seus olhos cravados em minhas costas, queimando minha pele.
Como poderei esquecer esses olhos?



Ianê Mello



Crédito de imagem: Foto de Cartier Bresson

terça-feira, 26 de julho de 2011

DE PERTO NINGUÉM É NORMAL






Sabe aqueles dias em que você se levanta com cara de travesseiro e um silêncio de colchão? No corpo, ainda as marcas das dobras do lençol como vergalhões. Os  olhos semicerrados, quase fechados, como que para impedir a luz de entrar. Só falta trazer nas costas o colchão... ô, vontade de voltar para a cama, quentinha, macia!
A gente podia só se levantar quando realmente perdêssemos  o sono, com aquela disposição! Pior que eu acho que haveriam pessoas que nunca se  levantariam...(risos)  Já notaram que tem gente com cara de sono? Aquele olho meio caído, a boca pra baixo, um semblante de pura monotonia . Falam arrastado, andam arrastado, tem preguiça até de sorrir...quando sorriem; o que é difícil. Penso se dormem direito. Talvez sofram de insônia crônica. Ou durmam menos do que precisam.
Mas olha eu aqui falando dos outros, como se eu fosse muito diferente... quem dera! Mas numa boa, gosto de observar as pessoas. Suas caras e bocas, seu andar, seus trejeitos, seu modo de falar... tudo isso nos revela sobre elas.  É só observar e querer enxergar.
Eu pensei em ser psicóloga, porque além do exterior e mais até do que ele, me instiga muito a mente humana,  mas desisti, achei que podia pirar com os problemas dos outros. Já bastavam os meus próprios...
Então, já que desisti da animada profissão, agora apenas me limito a observá-las e vez por outra, me inspiro a escrever uma crônica . Tudo pode virar uma, não?  A vida é cheia de movimento, de coisas e pessoas ao nosso redor. Já não escrevi até sobre a formiga! Então, acho que já ultrapassei a barreira da sanidade.  Sou maluca beleza e assumida. Que essas coisas de ficar em cima do muro, não me agradam. Ai, que saudade do Raulzito... "... ficar com certeza maluco beleza". Aquele era um que se assumia inteiramente...sem frescuras. Muito louco!!!!!
Gosto de pessoas que se mostram, sem disfarces, sem vergonha. Põem a cara à prova e que goste quem quiser...
Outro assim era Bukowisky...piradão! Dizia o que queria, escrevia como queria, fazia o que queria e não tava nem aí se o chamavam de escroto. Ele era o que era e pronto. E me conta uma coisa, o que é ser escroto?
Nâo, não responde rápido. Para e pensa.
...........................................................................................................................................................................................

Pensou?

Bem, já que você não fala nada, falo eu então. Ser escroto é ser diferente. Como? É fugir aos padrões sociais, é ter comportamentos inadimissíveis à sociedade burguesa. É fazer tudo o que excede. Não ser comedido. Falar demais e alto demais, beber demais, comer demais, fazer sexo demais, ser sincero demais, se vestir fora da moda, não saber se comportar nos lugares ... Ou seja, não ser um bonequinho marionete. Ter vida e movimentos próprios. Jamais ser aquele certinho,  vestido bonitinho, cabelinho penteadinho, falando tranquilo e baixo, palavras e gestos comedidos. Não ser um macaquinho amestrado. Ser um macaco Tião, que diferia dos demais macacos por ser muito expressivo em seus cumprimentos a atenta platéia do lado de fora das grades,  tacando casca de banana e outras coisas íntimas e mal cheirosas, dando o dedo pra todo mundo.
Você pode estar pensando que sou louca. Não faz mal, já assumi que sou mesmo. Seu julgamento não vai fazer diferença pra mim. Então... julgue, se é o que gosta de fazer. Respeito isso. Cada um é aquilo que é. Mas não sorri pra mim, assentindo com a cabeça, fingindo que está concordando com tudo que falo só para me agradar não, tá? Pois é disso mesmo que estou falando. Gosto de pessoas autênticas. Até de você posso gostar, desde que não faça isso...

E, então,quer ser meu amigo? Uma coisa você já sabe, terá uma amiga  para te dizer as verdades, para te dar uma opinião sincera ( se não quiser sinceridade, nem peça minha opinião).
Acho que fica mais fácil confiar em alguém assim, não?


Ianê Mello



Crédito de imagem: Pintura de Fuyuko Matsui

DESCANSE EM PAZ, AMY



Tão bela e plácida
corpo em repouso
olhos vivos e atentos
uma mulher apenas
e apesar de tudo
como tantas mulheres
que só precisam ser amadas
Mulheres que buscam
as fortes emoções
da paixão num alguém
carente de afeto
de respeito, de calor humano
Quando a solidão invade
a fraqueza se apodera
e a entrega é mortal
no vício que serve de alento
e cada vez mais empurra
para um beco sem saída
a vida por um fio
a morte a espreita
por essa alma fraca
já sem forças para lutar
A sua voz será ouvida
em cada canto
em cada casa
em cada bar
como uma doce lembrança
de um talento excepcional
que cedo demais se foi
se na vida não teve paz
descanse em paz, Amy
Agora, acabou...


Ianê Mello




Crédito de imagem: foto de Amy Winehouse do google




segunda-feira, 25 de julho de 2011

ANJOS A CANTAR






Para Amy Winehouse





Esse mundo não favorece as pessoas dotadas de grande sensibilidade. A vida é dura e ácida, como pedra e limão. Ter a alma sensível torna maior o sofrimento humano e nem todos aguentam enfrentar de cara limpa tamanha dor. 
Apelam, então, para drogas, para barbitúricos, para o álcool. Fraqueza, sim, mas quem não pode ser fraco em momentos de sua vida.
O dia transcorre louco, cada qual com a sua rotina, mesmo que essa seja a pura monotonia de ficar o dia todo em casa assistindo tv ou na internet. 
Quando o dia passa e a noite vem, o coração desacelera e o corpo pede repouso, nessa hora, o pensamento vôa. É quando, geralmente tudo vem: a briga que tivemos, aquilo que não dissemos, a pessoa que não abraçamos, o que queríamos ter feito e não fizemos. E por vezes nos vemos num grande buraco, encimesmados em nós mesmos, trancados em nossos medos e fragilidades, enquanto a vida lá fora gira, o tempo não para. E o quanto nos esquecemos de quem verdadeiramente somos, do nosso lugar nesse mundo, de nossa alma, tudo perdido no meio da inércia ou do excesso de afazeres.
E as máscaras, quantas máscaras temos que usar para atrair a platéia. E quantas vezes temos que sorrir desejando chorar. E quando temos que falar e não encontramos palavras, mas temos que impressionar. E quando temos que cantar, mas a voz está presa na garganta e temos que fazer um imenso esforço para que saia. E quando temos nossa vida invadida, quando tudo o que queríamos era privacidade. Paparazzis a nos fotografar nos momentos mais inoportunos. Jornalistas a nos sufocar com perguntas. E quando temos que ensaiar, ensaiar, sem parar, para um show , quando tudo que queríamos era dormir.
A vida passa... o tempo parece voar, ainda mais nos labirintos da fama. 
Quando teremos tempo para sermos pessoas comuns? Quando teremos tempo para sermos amigos uns dos outros? Para nos olharmos nos olhos, sem reparar em nossas vestes? Para darmos as mãos e saírmos por aí como se nada mais existisse, simples e puros como duas crianças, sem que ninguém nos reconhecesse ou sequer nos visse.. 

- Ei, amigo, vem comigo!  Vamos ver o sol raiar na praia. Senta aqui na areia ao meu lado.
- Feche os olhos, deixe seu coração criar asas!
- Estamos rodeados de anjos, nossos protetores, todos à nossa volta.
- Então deixe que eles cantem e cantemos com eles.

Nos demos as mãos, dois seres simples e desconhecidos e começamos a dançar naquela praia. Não havia nada a nossa volta para nós. E cantamos, cantamos, cantamos....músicas das quais nem me lembro mais. e dançamos, dançamos, dançamos... E nosso coração se alegrou... e a vida toda se resumiu naquele instante.


Crédito de imagem: Foto de Amy Winehouse do google




domingo, 24 de julho de 2011

NUM DIA DE DOMINGO COMO QUALQUER OUTRO





Não sei como explicar o que sinto hoje. É domingo, será por isso? Nunca gostei muito desse dia, é bem verdade. Acordei tarde, meio que sem vontade de levantar da cama, mas isso já virou rotina. Tomei meu café. Depois, liguei o computador, que acaba se tornando um vício. Naveguei na internet, no facebook, li  postagens, respondi e postei algumas. Em determinada hora almocei, sem muita vontade e voltei para o computador. Fiquei nele mais nem sei quanto tempo. As costas e os dedos começaram a doer . Não tinha mais posição.
Saí do computador, pois não aguentava mais e liguei a televisão. Assisti a dois seriados seguidos, coisa que não é meu costume. Nos dois haviam ocorrências de morte. Crimes a serem desvendados, onde qualquer um podia ser o culpado. Crimes movidos por raiva, inveja, traição... cometidos por mentes doentias. Realidade mais crua do que essa, impossível. A vida humana totalmente desvalorizada. 
E qual o significado da vida para muitas pessoas? Algo de real importância e valor? Algo a ser preservado e cuidado? Há pessoas que a começar por si mesmas demonstram não dar importância a vida. Não se cuidam. Bebem demais, comem demais, trabalham demais, se drogam ou abusam de barbitúricos. Assim levam a vida e por vezes antecipam sua ida. Mas existem coisas além destas que falei, sem dúvida, que também indicam uma desvalorização da própria vida.  
O comodismo é uma delas. Pessoas que vivem presas a situações que lhe causam desconforto, infelicidade, desprazer. Se entregam a rotina, a mesmice por não encontrarem forças para mudar. O novo realmente assusta e pode parecer incrível que prefiram continuar infelizes a investir numa mudança. Claro, para mudar é preciso ousar e para isso é necessário sair da sua zona de conforto. Entenda-se por zona de conforto a situação a qual a pessoa já se acostumou, já é sua conhecida. Mudar exige muito esforço e o esforço maior é a transformação interior. A mudança tem que vir de dentro para fora. Não há como modificar o externo sem lidarmos com nossas próprias atitudes, conceitos, valores, medos; sem questionarmos a nós mesmos. Tudo o que fazemos nessa vida tem suas consequências: lei da ação e reação. Portanto, somos os responsáveis pela nossa própria vida. Não adianta culpar o outro. Arranjar bodes expiatórios é muito fácil. A grande dificuldade é olharmos para dentro de nós mesmos. É convivermos com nossos próprios erros. É conseguirmos nos enxergar como somos de fato e não a imagem que passamos para o outro e com a qual, muitas vezes, tentamos ludibriar a nós mesmos.  
Como é doloroso sentir-se só, mesmo que rodeada de pessoas. Cada qual é um ser único, com suas preferências, com sua linguagem. Como por vezes é difícil o diálogo! Parece que falamos línguas diferentes, que não há compreensão. Estrangeiros, é como nos sentimos, em nosso próprio país. E como explicar para o outro ao seu lado essa angústia que lhe assola, que machuca por dentro. Talvez seja melhor o silêncio, o voltar-se para dentro. O medo de falar e ser mal interpretado leva ao silêncio, mas e quando o silêncio pesa, torna-se demais para suportar. O que fazer? Escrever, escrever, escrever... 
Um poema, um conto, uma crônica, não importa o rótulo que possa ser dado, para você é um desabafo, uma catarse que vem do fundo de sua alma. Pode não resolver por completo, mas dá um alívio imediato. Como um remédio que se toma e não cura, mas apenas ameniza a dor, servindo de paliativo. 
O problema continua a existir e vai gritar dentro de você até que você um dia acorde, porque procurar a cura para a doença é  nosso dever e responsabilidade. A escolha é nossa. Conviver com a doença, tomando um remedinho para aliviar quando a dor vem forte ou descobrir o que nos causa essa doença e como podemos efetivamente tratá-la.
Afinal, a vida é nossa, de mais ninguém e nós escolhemos como vivê-la.



Ianê Mello


Crédito da imagem: google

sábado, 23 de julho de 2011

O Ato Da Criação - Benfazeja







Poemas por, Ianê Mello 


O Poema


Poema
quando surges
urges urgências
imediatas
és apressado e deslizas
em palavras
que escorrem
no papel
Inexatamente exato
és perfeito
imperfeito sendo
pois que de pouco
muito se torna
e do muito
faz-se um nada

Poema
és alma lavada
purificada em pranto
Poema és sujo
nas palavras coloridas
em sangue
nas quais te embriagas
e te deleitas

Poema
és rarefeito
quando ar te falta
e ter perdes no vazio
Poema
és sombrio
quando turvado na dor
e te banhas em lágrimas

Poema
simplesmente és
a turbulência do momento
em que aconteces
ou a calmaria
de que por ventura padeces

Poema
simplesmente és
tempo e memória



Poema... expressão da alma  


Quando se escreve com a alma
com as vísceras
o poema é puro sentir
Não importa a técnica
a rima, a exata construção

O que importa é a emoção que vibra

É catarse da alma
é sentimento que aflora
de dentro pra fora
colorindo em linhas
o branco  e pálido papel
dando-lhe vida

E assim é belo
por sua crueza
Sensibilidade expressa
à flor da pele.

Não há que julgá-lo
Se bom ou ruim
Não há que decifrá-lo
Há, apenas, que senti-lo...



Pó de poesia



Poeira
Poesia
Palavras na poeira
Poesia em palavras
Palavras em pó


P
O
E
S
I
A


Palavras no vento
Palavras ao relento
Palavras... palavras...



O sangrar poético

Sozinha em meu quarto
as palavras fluem
Um rio de sangue
que escorre quente
em minhas veias
e se derrama no papel
tingindo-o de vermelho-sangue


"Todo escritor precisa de paz para sangrar"
pois nesse momento ele se volta para si mesmo
Absorto em seus pensamentos,
em completo e absoluto silêncio,
ouve as batidas do próprio coração


Suas emoções afloram
Pode ouvir o grito de suas próprias dores,
seus devaneios, suas perdas, seus amores
seus conflitos, suas ilusões
Ele se percebe unicamente humano
Sua solidão se faz sentir
sem as interferências externas
que distraem a mente
e, por vezes, embotam os sentimentos


Nesse profundo encontro consigo mesmo
ele se descobre frágil, só, imperfeito
Caem as máscaras do dia a dia
Agora, é seu verdadeiro rosto que vê no espelho
e se sente nu, desprovido de qualquer proteção
e a ferida, então aberta... sangra.



Sentir poético


Escrever é rasgar os véus
Desvendar mistérios ocultos em minh'alma
Desnudar-me de qualquer roupagem
Num livre processo de criação

Ficar nua, alma limpa, exposta
Entregue à fonte que inspira
As palavras a fluírem no branco papel
Linhas do meu interno


Meu mais profundo êxtase
Onde encontro várias faces
E como minhas as reconheço
Próprias de um ser multifacetado


Escrever é transpor fronteiras
Desvelar sentimentos ocultos
Enxergar-me por dentro...
Minha lucidez, minha loucura


Na força da poesia encontro
Alento ao meu intenso sentir
Expressão pura do meu silêncio
No verbo que ganha vida


*

Crédito de imagem: Pintura de Wladimir "Birth of Lov"



http://www.benfazeja.com/2011/07/o-ato-da-criacao.html

A Primavera em seu esplendor




E que venha a primavera
com suas belas e coloridas flores
e traga com ela a doçura
e o prazer de seus amores
Que venha com seus encantos
transformando a vida real  
em belas tardes e manhãs 
Estação de múltiplas cores
de beleza cristalina e natural
em sua expressão mais pura
Com os pássaros e seus cantos
Com a natureza a luzir
Levando pra longe o pranto
trazendo ao rosto o sorrir
Que no brilho do olhar
ao vislumbrar tamanha beleza
possa existir a certeza
de um novo e belo porvir


Ianê Mello


Crédito de imagem: Pintura de Van Googh



Ouça: Vivaldi " As quatro estações - Primavera"

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Mão estendida



Fomos encontrar você. Tava tudo combinado. Local, evento, horário.  Me atrasei um pouco porque o caminho que eu bem conhecia se apagou de minha memória. Andei pela rua inteira, ida e volta e nada....

- Liga para ele, disse meu companheiro, que ele já deve ter chegado e nos explica.
- Verdade, boa idéia.

Liguei e ouvi ao fundo um barulho que indicava que você realmente já estava lá. Logo você, que nem sabia aonde ficava.

- Amigo, coisa incrível. Tô perdida. Andando pela rua a esmo e não me acho.
- Quer que eu fique na porta? Estou de camisa vermelha e jeans e me pareço com o Brad Pitt.
- Mas preciso saber para que direção que eu vou. Se para a direita ou para a esquerda da rua. 
- Mas onde você está?
- Aqui em frente ao boteco Mofo (que nome...argh!).
- Ah, tá, vem em direção a direita, então. Espero na porta.

Bom, pelo menos já sabíamos a direção a tomar. De repente avistei uma camisa vermelha que me chamou atenção.

- Olha, deve ser ele!

Mas não parecia você, não o você que vi nas fotos. Te achei bem diferente. Costuma ser diferente quando quando se vê a pessoa in loco. Afinal a foto retrata um momento extático. Mas quando sorriu, te reconheci.
Era a primeira vez que nos víamos pessoalmente e é tão diferente ver alguém ao vivo e a cores bem a nossa frente. É uma emoção indescritível. Fiz as apresentações e entramos. 
Como o evento seria no segundo andar, aguardamos você terminar seu chope e subimos. Lá encontrei várias pessoas conhecidas de outros eventos, as cumprimentei, apresentando você à elas. Notei seu jeito meio tímido, com uma tendência ao isolamento e como já sabia dessa sua dificuldade, procurei integrá-lo.
Você parecia ter tanto a falar, precisar tanto ser ouvido. Quanta solidão senti em sua alma! Quanto desilusão e descrença! Precisando de um porto amigo para aportar. Quiz ser esse porto e fiquei a ouvir o que lhe vinha a vontade de falar, talvez coisas que nunca havia contado a ninguém... sintonia de almas, que o levou a essa confiança em mim para abrir sua vida como um leque. Almas que se reencontram nessa vida e se reconhecem e se compreendem. Fique feliz por poder ser esse ouvido atento as suas palavras que vinham carregadas de emoção.
O evento rolava, a música rolava, mas você precisava falar... e eu ouvia com o coração, sentido seu sofrimento e a dor de sua solidão. Espero ter ajudado. Espero ter aliviado sua ansiedade, ter minimizado um pouco a sua dor. O fiz por amizade, o fiz por querer seu bem.
O que pode gratificar mais um ser humano  sensível do que oferecer um ombro amigo a quem precisa, um alento, um abraço, um aperto de mão, um toque sutil em seu coração.
Ainda existem pessoas em quem você pode confiar. Acredite!
Pode contar comigo, amigo, estou aqui...



Ianê Mello




Crédito de imagem: google

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O GRANDE APRENDIZADO




A dor já não me incomoda como antes. Num processo de maturação não se pode ter a ilusão de que no mundo só existam flores. Afinal, até as mais belas e perfumosas tem espinhos. Em todo caminho existem pedras, Drummond já o dizia. O importante é o que se faz com elas. Se leva uma topada e se xinga ou compreende que se ela estava ali devia haver um motivo. A pedra é como um entrave em nossa vida que devemos estudar se temos condições de ultrapassá-la e, se ainda não temos, desenvolvermos essa capacidade. O ser inanimado é ela, não nós. A nós cabe o movimento de mudança, de superação de nossos próprios limites. Ou vamos fazer como a pedra e os deixar rolar de cá pra lá, de lá prá cá, sem nenhuma reação. A dor faz parte da vida de cada um e com ela temos que extrair um aprendizado e não, simplesmente, maldizê-la. Tudo é uma oportunidade de crescimento, se nos mantivermos sempre atentos ao que acontece à nossa volta.
O quanto podemos aprender com os animais e com as plantas?  O quanto tem a nos ensinar aquela criança que nos sorri? O que podemos compreender com o mendigo na rua? o que temos a aprender com aquela pessoa que passa fome e ainda assim sorri? Quantas pessoas podem nos ensinar muito numa simples troca de palavras ou num pequeno gesto? 
Será que estamos preparados para enxergar esses sinais ou vivemos tão encimesmados dentro de nosso próprio casulo que sequer notamos a que se passa a nossa volta?
Não, não tenho pena de mim mesma. Tudo o que passo faz parte do meu caminho, da minha escolha, certa ou errada. Tenho o livre arbítrio. Sou responsável pela minha vida e assumo isso. Tenho um corpo e uma alma. Esse corpo, bonito ou feio é roupa que me reveste a alma. Ele é perecível, sofre desgastes com o tempo: inevitável. Tenho que cuidá-lo para que seja o mais saudável possível. 
Mas a minha alma, essa é eterna  e imortal. Tenho que me preocupar com a sua elevação, com o seu aprimoramento, para que cada vez ela se torne mais pura. Até que um dia eu não precise mais dessa veste, desse corpo, pois a alma estará liberta para habitar em planos superiores, fora da matéria. 
Estamos aqui para aprender e resgatar nossos erros do passado. Esse planeta existe com esse fim. Procuremos fazer o nosso melhor sempre, ajudando, inclusive à queles que ainda não compreendem o planeta Terra como uma mera passagem pra outras dimensões mais evoluídas.



Ianê Mello




Crédito de imagem: imagem do gooogle

A DIFÍCIL HORA DO ADEUS



- Oi, você já vai?
- Acho melhor, agora que tudo está resolvido.
- Pode levar os livros de Fernando Pessoa, se quiser.
- Sei que você também gosta deles. Pode ficar.
- Você vai ficar bem?
- Sim, claro, dá-se um jeito...
- Será que poderia ser diferente?
- Não sei. Só sabemos que não foi e agora...
- Para onde você vai?
- Eu me viro. Não se preocupe.
- Está levando tudo que precisa?
- "O que mais preciso tenho que deixar", ele pensou.
- "Gostaria que você não fosse embora. Por quê tem que doer tanto?", pensa ela, por sua vez.


    E o silêncio se fez entre ambos. Por não quererem revelar os verdadeiros sentimentos que ainda pulsam e teimam em machucar.  Mas nenhum dos  dois tem coragem de falar o que realmente sentem. Decidiram pela separação e sentem que tem que levá-la adiante a qualquer custo. Racionalizam que será melhor para os dois porque não estava dando certo. Ah, mas tiveram momentos tão lindos! Estes ficarão na lembrança. Atormentando a dor da saudade, o frio da ausência.  O que fazer quando o amor ainda existe, mas não há mais entendimento, não há  mais possibilidade de convivência?

- Bem, você quer ficar coma cópia da chave, caso tenha esquecido algo?
- Acho melhor não. Se der por falta, lhe aviso e venho pegar.
- Desejo que você seja feliz.
- É o que estamos tentando, não? Sermos felizes.
- Sim, claro...
- Então, já vou.
- Abro a porta pra você.


Na porta, se entreolham mais uma vez. Ele olha a sala a sua volta. O lar que viveram todos esses anos e sente a alma apertada. Precisa ir, senão não conterá a lágrima que teima em se formar no cantinho de seus olhos.
( Quem disse que homem não chora?) Ela pensa se há como contê-lo. Como voltarem atrás, mas decide deixá-lo partir. A dor é tão grande que não permite ser expressa.

- Vá com Deus!
- Fique em paz...

E ela fecha rapidamente a porta com as lágrimas rolando sobre sua face, enquanto ele entra no elevador e sente uma faca cravada em seu peito. Uma dor tão lancinante que jamais poderia imaginar e, indo  contra todos os preconceitos, finalmente chora...




Ianê Mello



Crédito de imagem: Pintura de Edward Munch

terça-feira, 19 de julho de 2011

O INESQUECÍVEL CANTO DO ROUXINOL




Poderá um rouxinol cessar seu canto?
Sua vida perderia o encanto
Pois sua vida é cantar
E quando canta o rouxinol
tudo a volta silencia e cala
Seu canto preenche o ar
A paz se instala em nós
Não, um rouxinol não poderia
Trocar a noite pelo dia
pois canta a luz do sol
E em seu belo cantar
O sol nasce para homenagear


Ianê Mello


CuriosidadeO rouxinol sempre foi conhecido pela pureza de suas notas e pela variedade de sua melodia.
Na famosa história de Andersen, O Rouxinol, o canto desse pássaro era tão belo que quem o ouvisse jamais o esqueceria.


segunda-feira, 18 de julho de 2011

O VAZIO DA INÉRCIA



Palavras já não bastam
seus significantes
e significados
sua ortografia
sua etimologia
sua grafia
sua língua
sua linguagem

Palavras expressam
quando isso
é possível
de forma clara
confusa
abstrata
concreta
difusa
prolixa
estéril
inútil
abundante
semeadora

Palavra que não diz
Palavra ausente
Palavra que consente
Palavra sã
Palavra demente
Palavra sincera
Palavra que mente
Palavra viva
Palavra morta

Sentimentos
não cabem na palavra
são maiores
são sentidos
requerem espaço
requerem entendimento

E o ser se perde
e assim se torna
uma sombra
um nada
um plágio
uma efemeridade

O tempo passa
inconsútil
alheio
incorruptível
e deixa nas mãos
o vazio da inércia
um oco de palavras



Ianê Mello



Crédito de imagem: autoria desconhecida(google)

domingo, 17 de julho de 2011

HOMEM PREDADOR





O lobo que habita na floresta isolada tem garras afiadas, dentes pontiagudos e espessa pelagem. Essa pelagem volumosa tem seu propósito, sendo  feita de duas camadas. A primeira bastante resistente para repelir a água e a sujeira.  A segunda é composta por um denso pelo tornando seu corpo impermeável a água. O subpelo é formado por grandes tufos de pelos, espalhados por todo seu corpo. O animal esfrega-se, diversas vezes, contra pedras e galhos para que esses tufos se desprendam de sua pele.
São animais altamente predadores no ecossistema que ocupam. Sua visão noturna é a mais avançada da família dos canídeos. Seus  olhos  brilham como faíscas na noite à procura de sua presa. Famintos e vorazes, ágeis na caça, são capazes de percorrer várias longas distâncias  durante uma perseguição. Seu ponto forte não é o olfato, mas sua audição totalmente apurada. É capaz de ouvir  a queda de folhas das árvores durante o outono
Seu instinto de sobrevivência o faz utilizar todas as armas que a natureza lhe deu para manter-se vivo.
E para que estou aqui a falar de lobos e suas características? Porque acho importante refletirmos sobre as características e necessidades das diversas espécias, sendo elas humanas ou animais. 
O lobo, me parece, um animal bastante interessante e que sempre exerceu fascínio nos humanos. 
Dando origem a figura mitológiga conhecida como lobisomen, que seria um monstro que mistura formas humanas e de lobo. É um dos monstros fictícios mais populares no mundo, sendo inclusive muito conhecido no folclore brasileiro, onde há de fato pessoas que acreditam em sua existência. Por conta disso, inclusive, sua figura foi largamente explorada nos filmes de terror.








Fico eu aqui a refletir o porque de tanto interesse por esse animal. Encontrará o homem em si características  semelhantes as do lobo?
Muitos homens  tem características predadoras. É  só atentarmos para os noticiários que relatam assassinatos violentos praticados por sociopatas que, após abusarem física ou sexualmente de quantas vítimas eles puderem capturar, as matam sem dó nem piedade. Uns baleiam, outros esfaqueiam,outros ainda esquartejam, e outros chegam até a comer as suas vítimas. E a pedofilia, que também se trata de um ato predador, praticado tanto por homens, quanto por mulheres.
E quando a vítima desses predadores humanos é o próprio animal, o que  ameaça a extinção de muitas espécies. O homem , que destrói a natureza impossibilita a sobrevivência desses animais em seus habitats naturais. Além disso, em muitos países permite-se a caça de certos animais; como a raposa, no Reino Unido; o coelho e o veado, em Portugal e o massacre ao touro, na Espanha. 
E o que leva o homem a se tornar predador? Necessidade de alimento, sobrevivência, auto-defesa? Não, o simples prazer de mostrar-se superior ao animal ou ao outro ser humano subjugado, o domínio que possui sobre ele, uma forma de demonstrar sua masculinidade, seu poder absoluto. Quando a presa é o animal ainda exibe orgulhosamente seu troféu preso a parede (como um mero enfeite) ou no chão de sua sala para que os amigos vejam o quanto é poderoso. 
Sim, agora chegamos aonde eu queria. O lobo, animal irracional, caça para sobreviver, como tantos outros animais. Tudo o que faz é visando essa sobrevivência. 
O homem, sendo um animal racional é predador por opção, por prazer, por esporte e totalmente consciente do mal que causa. Sejam suas vítimas outros seres humanos ou animais o faz por necessidade de sentir o gosto do poder em sua boca, o sabor da morte em seus olhos, o sangue em suas mãos, sentindo-se assim dotado de um grande poder. 

Covardes homens...

Ianê Mello


Crédito de imagem: google

sábado, 16 de julho de 2011

O VERDADEIRO SENTIDO DA AMIZADE





Amigo é sempre amigo, principalmente nos momentos difíceis em que mais precisamos dele.
Amigo é companheiro, é solidário, respeita seu sofrimento e procura ajudá-lo.
Amigo confia em você e não escuta apenas uma versão dos fatos.
Amigo não ignora sua presença como se fossem meros conhecidos.
Amigo não se afasta, se aproxima e lhe estende a mão.
Amigo não julga e condena, mas procura compreender atitudes tomadas em certa ocasiões e mesmo que não concorde com elas, respeita.
 Amigo não lhe trata com frieza, justo quando você mais precisa de afeto humano.Amigo se aproxima também nos momentos de tristeza e dor, pois nos momentos de alegria é muito fácil querer compartilhar.
Decepções em minha vida, já as tive muitas, mas tenho por natureza crer na amizade e bondade humanas, mas sou forte e saberei separar "o joio do trigo".
Tenho em mim muita força e a cultivo cada vez mais.
Afinal, quem poderá ser minha melhor amiga do que eu mesma?
Tenho certeza de que todos que já passaram por  essas decepções saberão compreender o significado dessa reflexão.
É melhor ter poucos amigos, mas verdadeiros.


Ianê Mello


Crédito de imagem: google