quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CENA DO COTIDIANO




Ela chega em casa exausta. Joga sua bolsa no sofá e encaminha-se para o banheiro. Abre a torneira da banheira, regulando a água para uma temperatura agradável, nem muito quente, nem muito fria: tépida. Livra-se de suas vestes com impaciência. O barulho da água a jorrar é um convite para o seu corpo cansado. Com a ponta do pé testa a temperatura antes de entrar. Perfeita! Mergulha seu corpo aos poucos, até ficar submersa, mantendo apenas o rosto fora d’água, entregando-se ao toque suave e morno, como uma carícia reconfortante a envolvê-la. Sente-se como se estivesse de volta ao útero materno. Fecha os olhos lentamente e deixa-se invadir por essa gostosa sensação. Nada mais existe nesse momento, além dessa leveza, além desse torpor. Deve ter adormecido por um breve instante. Escuta ao longe o telefone que toca, despertando-a para a vida, mas não encontra forças para se levantar. Deixa-se ficar, então, nada há de ser tão importante que não possa esperar.



Ianê Mello

(30.10.12)


*
Pintura de Alyssa Monks.

Nenhum comentário: