sexta-feira, 22 de março de 2013

IRRECONHECÍVEL CRIATURA



Essa estranha criatura que fito no espelho
grandes olhos oblíquos
ondulados em azuis esverdeados
indagativos e irrequietos
de espanto alimentados
no imaginário de uma vida
sem limites nem fronteiras
rodeada de precipícios
esquinas deslizantes
ladeiras abaixo
em tons de cinza ambientada
em amores gris disfarçada
de temperatura instável
equivocada em lentidões
numa espera aparentemente mansa
numa agonia elevada ao delírio
despedaçados sonhos na calçada
em vícios e deleites provisórios
entre sussurros e gritos
entre desejos e pleno gozo
crepúsculos dormentes em paixões
tremores súbitos ao anoitecer
disseminado o medo que congela
manhãs alardeadas em saudades

Ah,essa irreconhecível criatura
que hoje fito com desdém
assusta o que em mim não reconheço
perversa em sua imagem distorcida
em semelhanças de um passado longínquo
recortadas máscaras  de um rosto que se desfez


Ianê Mello
(19.03.13)

*
Pablo Picasso, Moça Diante do Espelho, c. 1932

Um comentário:

Paulo Knop disse...

O tempo, o devorador.