segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

VOA POETA

" Eu nasci na vertical, mas o mundo é oblíquo."
(Popô)

(Ao Popô in memoriam)

Tendo as ruas como morada
Sem abrigo, sem conforto
um ser que não tinha nada
nem um lugar como porto

Sem um teto como abrigo
passava seus dias assim
temendo pelo perigo
de darem a sua vida um fim

A maldade alheia exposto
ainda assim conservava
um sorriso em seu rosto
a quem com ele falava

Dia e noite ao relento
tantas noites mal dormidas
coração sempre atento
as agruras desta vida

Tendo a fome como companhia
e a avassaladora solidão
também tinha a poesia
na palma de sua mão

Naquele simples homem havia
mais do que a fome derradeira
a inexplicável  sede da poesia
que até suplantava a primeira

Pois numa tarde qualquer
sua voz se fez calar
e hoje um verso sequer
ele nos pode ofertar

Ele se foi com o vento
num domingo sem aviso
deixando em meu pensamento
a grandeza de um sorriso

Em nós deixou a lembrança
difícil de se apagar
uma nesga de esperança
perdida em seu olhar

Pelas ruas sempre o buscaremos
com o brilho do nosso olhar
como a vida que não morre
apenas deixa-se resgatar


Seus versos, enfim, ganharam asas
Que o poeta possa voar!



Ianê Mello
(20.01.14)
 

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